A pandemia e seus reflexos escancarou abismos sociais. Com tanta gente precisando de ajuda, um gesto nobre ganhou ainda mais valor: a solidariedade. Doar um alimento ou um material de limpeza, doar sangue ou dedicar um pouco de tempo a alguém pode faz a diferença na vida de quem está precisando. "O momento tem suscitado muitos sentimentos nas pessoas, inclusive a solidariedade. As pessoas estão olhando mais para o outro agora nessa situação de calamidade, mas a solidariedade deveria ser uma prática mais corriqueira", aponta a professora Márcia Stengel, do Curso de Psicologia, que considera a empatia o primeiro passo para a solidariedade. "O altruísta é o sujeito que faz bem para o outro. Para isso, tem que saber se colocar no lugar do outro. E isso é a empatia. Se eu não me coloco no lugar do outro, eu não vou enxergar as necessidades dele. Aí como eu vou fazer o bem?", questiona.
Fazer esse descentramento, no entanto, pode não um exercício fácil, ainda mais em uma sociedade com valores individualistas. "Às vezes as pessoas não se sensibilizam porque não conhecem ou tem contato com outras realidades. Nesse sentido, a mídia tem um papel muito importante porque mostra isso", explica a professora, que aconselha a sair da bolha social em que vivemos para conhecer outras realidades. Conhecer outras realidades, ser empático e solidário são atitudes que refletem no bem-estar coletivo, mas também no individual.
"O bem acaba provocando o bem. O bem é uma corrente", quem afirma é o psiquiatra e professor do Curso de Medicina Renato Diniz Silveira, ao explicar que as práticas solidárias, além de beneficiar outro indivíduo e refletir no bem-estar coletivo, faz bem também para a saúde, física e mental, de quem a pratica. E os benefícios são inúmeros. "Existe um livro chamado O poder curativo de fazer o bem: os benefícios à saúde e espirituais de ajudar os outros, de Allan Luks, em que ele entrevista mais de três mil pessoas para estudar os benefícios que o altruísmo do trabalho voluntário proporciona nas pessoas. Então, neste livro ele consegue esclarecer uma relação entre ajudar os outros e ter uma saúde mais forte", conta.
Com a redução dos níveis de estresse e a sensação de renovação de energia, são atenuados problemas como insônia, gripe, depressão, resfriado, dor de cabeça e sintomas de fobia social. Em contrapartida, há o aumento da resiliência, otimismo e autoconfiança. A explicação é científica: ao praticar um ato solidário, liberamos endorfina, hormônio responsável pela regulação do nosso bem-estar. "A solidariedade gera, então, energia, melhora a saúde e impulsiona a gente para o bem", resume.
O professor ressalta, porém, que essas comprovações científicas não trazem novidade. "A gente sempre soube, ao longo da história, o quanto que fazer o bem nos ajuda. E é impressionante como que nós podemos fazer coisas simples que não dependem de muito esforço, que não dependem de dinheiro. E sempre é possível fazer alguma coisa", pondera.
Durante a pandemia, a empatia e a solidariedade nunca se fizeram tão importantes. "Nós estamos atravessando tempos difíceis e turbulentos. O sentimento que todos estamos agora, um sentimento principalmente de incerteza, instabilidade, confusão, estamos com falta de confiança no mundo, nos outros e aí é o momento que ser solidário é o maior compromisso que nós temos agora. Estamos mais sozinhos, mais distanciados, mas ainda temos muitas maneiras de prestar solidariedade e altruísmo. Então, eu acho que nós todos temos que encorajar a nós mesmos a fazer coisas boas uns para os outros", opina.
Fonte: PUC MInas